Igreja nova II

Incenso de uma nova igreja, Charles Demuth 
Quando as táticas do marketing são empregadas na propagação do evangelho, o que se nota é uma massificação da mensagem que para uns convence, mas para a maioria causa revolta. Nós da igreja mostramos muito interesse principalmente naqueles que estão quebrados e buscando algum significado para a sua vida. Está certo. É isso mesmo que a igreja deve fazer. Nós mostramos muito interesse naqueles que estão sofrendo de crise de saúde, financeira ou conjugal. Também está certo. Mas nos esquecemos de todos aqueles que não apresentam nenhum sintoma dramático. Esquecemo-nos do povo espiritualmente pobre.

Lá no fim do túnel, porém, a igreja está descobrindo um fato inacreditável: o fato de Deus ama o povo, todo o povo, onde quer que o povo esteja. Como resultado deste amor de Deus passamos a externar aquilo que queremos ser, aquilo que devemos ser. É ainda muito embrionária, mas está nascendo uma igreja nova. Quem sabe daqui a bem pouco tempo teremos a segunda grande Reforma da igreja de Jesus Cristo ainda no século XXI?

Vamos ver alguns sinais dessa igreja nova.

A igreja está aprendendo como falar simples. Isso em si já é uma revolução radical. Uma das antigas regras para ordenação de pastor, nem sempre seguida, era essa: o pastor deve ter a capacidade de por em palavras simples profundas verdades teológicas. O que mais se pode esperar de um pastor? Essa regra serve também para os missionários estrangeiros. Como queremos comunicar o evangelho se não falamos a língua do povo? Mas o que ainda prevalece é a dificuldade de falar do amor de Deus em nosso próprio idioma. Se eu não posso traduzir a minha fé em linguagem simples é porque eu não entendo a minha fé, o pior, não creio naquilo que prego. Ficamos espantados, mas volta e meia nos defrontamos com uma mensagem simples que nos expõe verdades que jamais imaginamos existir na Bíblia.

O segundo sinal: estamos começando a ser pessoas reais. Na igreja que está nascendo nós veremos as coisas como elas são. Na igreja que está nascendo nós admitiremos que somos de fato pecadores. Na igreja que está nascendo nós aceitaremos a simples aceitação de nós por Deus. Para mim particularmente como pastor, esse é um ponto conflitante. Não busco a comoção e nem lágrimas, mas não é nada fácil ser pastor. O povo espera do pastor, da sua esposa e dos seus filhos a perfeição, um modelo, um exemplo. É natural. Às vezes eu fico rindo de mim mesmo com certas atitudes no púlpito. O pastor assume determinadas atitudes pomposas, e não é só pela roupa preta, mas a postura, as mãos e os olhares nos entregam de bandeja. Não deveria ser assim. Nós somos humanos como qualquer um, choramos as perdas e choramos as adversidades com lágrimas comuns. Defeitos e pecados é o que nos falta. Nesses quase quatro anos do blog o maior presente que posso deixar para vocês é ser simplesmente simples, honesto e autêntico.

Por causa de Jesus Cristo eu posso lhes confessar o meu pecado. Por causa da aceitação de Deus eu posso lhes dizer como sou realmente. Sei que muitos não vão me aceitar e até me repudiar, porque a imagem que construíram de um pastor não sobreviverá nesta igreja nova, da qual pretendo um dia fazer parte.  Para muita gente este pode ser um ponto fraco, mas o fundamento mais forte da igreja nova será aceitar as pessoas como elas são, sejam elas membros ou não, clérigos ou leigos, crentes ou ateus. A igreja que está nascendo me permite ser aberto e lhe aceita do jeitinho que você é. (continua)

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