Não deixe o mundo mau te levar outra vez

Repercussão golpel, Jurang Maunt

Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Gálatas 3.1

Em uma das cartas mais dramáticas escritas pelo apóstolo Paulo, ele tenta desesperadamente fazer com a igreja da Galácia voltasse a se submeter à doutrina pregada por ele quando, a partir do zero, fundou aquela pequena, mas importante congregação. Paulo pede com toda humildade, porém com sua conhecida determinação e habilidade em transformar seus textos em belas poesias, que esta igreja volte ao seu primeiro amor.

Todo esse emblemático problema estava se dando pelo fato de alguns, não poucos, membros daquela igreja estavam se deixando seduzir por promessas e de falsos profetas que queriam, além de introduzir novidades estranhas a fé, tornar a igreja sua refém, assumindo o controle administrativo, doutrinário e, principalmente, financeiro daquela comunidade de fé.

O interessante é que Paulo ataca primeiramente o tema que qualquer argumentador teria deixado por último: a autenticidade do seu evangelho diante do que estava sendo pregado. Ele diz que, na verdade, não existe nada que seja semelhante ou que seja rival ao evangelho de Cristo, mas que este pode ser sim manipulado a ponto de perder toda a sua essência. Com todas as letras ele afirma que a autenticidade do seu evangelho está acima de qualquer nova revelação, ainda que esta seja trazida por um ser celestial que se apresente como divinamente inspirado. O apóstolo não pede apenas que ela seja rechaçada ou combatida, mas que seja anátema. Eu conheço algumas traduções para esta palavra, tais como abominável, amaldiçoada ou coisa que o valha, mas ainda prefiro a sua versão mais literal. No hebraico o anátema é um tipo de guerra em que não se permite deixar viver o menor resquício da civilização com a qual está se travando o combate, ou seja, era para erradicar de vez com a raça deste inimigo.

Logicamente que o termo veio sofrendo variações ao logo da História. Desde de “olho por olho, dente por dente” até amar o inimigo e orar pelo perseguidor, contudo, o princípio ainda permanece. Se Paulo não incita a violência física contra os adulteradores da sua mensagem, preserva a intransigência do anátema contra qualquer mensagem, doutrina ou prática que transgrida o verdadeiro e único evangelho.

Mas Paulo era pastor de ovelhas por excelência. Ele colocava sempre acima da censura a força do amor de Deus que nos veio através do Espírito Santo que foi derramado. Por isso ele muda o tom da sua voz para o tom de súplica. Falando da sua experiência pessoal, ele conta quem ele era e como o evangelho o transformou. Contrariando o que Lucas escreveu no livro dos Atos dos Apóstolos, ele também afirma que não procurou o respaldo dos principais apóstolos da igreja, mas que somente se atreveu a pregar o que havia recebido na estrada de Damasco quatorze anos depois (Gl 1.17).

Um bom tempo para que o evangelho mudasse sua vida, seus hábitos e, principalmente a sua visão de mundo. E é baseado nessa nova mentalidade que Paulo pede aos gálatas que não se deixem escravizar novamente. Suas brandas palavras parecem prenunciar a música Por causa de você de Tom Jobim. Esta carta será sempre um alerta contra toda e qualquer tentativa de nos fazer voltar ao tempo em que estávamos perdidos em nossos pecados no mundo sem Deus. Será preciso sempre que nos lembremos de Paulo cantando baixinho como fazia a cantora Maysa:

Não deixe o mundo mau te levar outra vez.

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