Sonhos abstratos, Terry Fan |
A plenitude do Espírito de Deus, pelo qual se manifesta a
libertação sobre toda a comunidade. “E acontecerá, depois, que derramarei o meu
Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos
velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as
servas derramarei o meu Espírito naqueles dias. Mostrarei prodígios no céu e na
terra: sangue, fogo e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a
lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR. E acontecerá
que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo; porque, no monte Sião
e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR prometeu; e, entre
os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar” (2.28-32 ou 3.1-5).
Antecipando o que haveria de acontecer no Pentecostes
cristão (At 2, ver principalmente os vv. 16-21), Joel anuncia a presença
permanente do Espírito sobre todo o povo de Deus, sem distinção de idade, sexo,
raça ou condição social. Assim, todas as pessoas, plenas do Espírito de Deus,
se tornam profetas que anunciam o evangelho, por meio de uma prática de
resistência e de celebração da esperança.
Joel conclui sua profecia com o anúncio da restauração da
sorte do povo de Deus: “Eis que, naqueles dias e naquele tempo, em que mudarei
a sorte de Judá e de Jerusalém” (4.1), a precariedade dará lugar à abundância;
o abandono, à presença constante de Javé como refúgio; as relações sociais
injustas e excludentes serão substituídas por uma nova ordem onde “velhos e
jovens”, “escravos e escravas”, “filhos e filhas”, não mais serão
discriminados, mas plenamente incluídos e respeitados.
Quem adquire a consciência do profeta não pode deixar de
atender afirmativamente ao seu convite: “Forjai espadas das vossas relhas de
arado e lanças, das vossas podadeiras; diga o fraco: Eu sou forte” (3.10 ou
4.10). As nossa ferramentas de trabalho, são as melhores armas que temos pra
enfrentar as crises.
Quando esse Espírito toma conta de todo o povo de Deus, o
Dia do Senhor se torna inevitável. “E há de ser que, naquele dia, os montes
destilarão mosto, e os outeiros manarão leite, e todos os rios de Judá estarão
cheios de águas; sairá uma fonte da Casa do SENHOR e regará o vale de Sitim”
(3.18 ou 4.18).
Para reflexão e ação
A partir dos caminhos apontados pela profecia de Joel,
podemos rever a nossa realidade, tentando aplicar os princípios da resistência
profética com vistas à superação da nossa própria precariedade. Podemos nos
perguntar, portanto:
1. Em que a nossa realidade, principalmente a dos adultos e
idosos, se assemelha à do profeta Joel? (Cada um pode partilhar um pouco a
respeito das suas “precariedades”).
2. Como a profecia de Joel e a experiência do pentecostes
cristão pode orientar a participação dos mais idosos na Igreja e na sociedade?
Qual a nossa responsabilidade como portadores da memória da libertação? Que
lugar tem a experiência acumulada ao longo de toda uma vida para a orientação daqueles
e daquelas que procuram saída para suas crises existenciais, econômicas e
espirituais?
3. Joel fala da visão que os jovens e os velhos viriam a
ter, pela inspiração do Espírito de Deus, mas pratica sua profecia a partir da
visão que ele obteve a partir da história do seu povo, do conhecimento da sua
própria realidade e da experiência do seu próprio dia-a-dia. Os sonhos, como as
visões, são um misto de realidade e imaginação, e, na Bíblia, o sonho é a ação
de Deus que traz a vida e reaviva a sabedoria acumulada. Quais são os
sonhos-ação que podemos compartilhar com as novas gerações para que possamos
apressar o Dia do Senhor?
As limitações da idade, como a precariedade da vida, não
devem impedir a visão da novidade (o Dia do Senhor). São sonhos como esses que
nos permitem superar a nostalgia passiva. É assim que podemos exercitar uma
memória que valorize o presente e nos permita enxergar o futuro como bênção. O
sonho vence o medo, o imobilismo, e supera a rotina e a falta de criatividade.
No Pentecostes, todas as idades são chamadas a participar do projeto de Deus
rumo ao Dia do Senhor.
Sugestão de leitura (esta
reflexão deve muito de sua inspiração ao texto abaixo):
ROSSI, Luiz Alexandre
Solano. Como ler o livro de Joel. São Paulo: Paulus, 1998.
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