O que é CONSCIÊNCIA III


Adoração do Cordeiro, Jan van Eyck 
Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. I Coríntios 9.2

Paulo de forma alguma se prende às normas escritas na lei judaica e tampouco às que foram recomendadas pelos notáveis de Jerusalém no primeiro concílio da igreja. O que prende a sua consciência é a sua relação com Deus e com os irmãos das igrejas que fundou. O que se percebe nesta relação não é um modelo rígido e aplicável igualmente a todas as comunidades, mas sim uma relação flexível, que é mais consistente com o ministério de Jesus e com o próximo do que as regras estabelecidas pela igreja primitiva.  Neste tipo de relação as leis escritas não são inúteis, mas perdem o caráter absoluto que adquiriram aos olhos dos fundamentalistas.

Paulo teve um longo tempo para refletir sobre a nova liberdade em Cristo, no tocante à relação com os gentios e fez a seguinte constatação: Quando os pagãos, que não possuem uma lei revelada, fazem naturalmente o que manda a lei e se servem da lei mesmo sem conhecê-la, mostram que a lei está escrita em seus corações, pois realizam obras intencionadas pela lei. A sua consciência, neste caso, também dá o seu testemunho, assim como os seus julgamentos interiores que acusam e justificam. (Rm 2.14) Com isso ele afirma que o julgamento de Deus não tem por mérito o que a lei teoriza sobre o bem e do mal, mas a sua aplicação na prática. Esta sim é determinante, porque vai além da lei escrita, atingindo a consciência de se estar ou não de acordo com a vontade de Deus. Foi assim que Adão, que não tinha lei, ao não cumprir com a vontade de Deus, teve consciência da sua nudez e fugiu da sua presença. Paulo conclui dizendo que o projeto de Deus está inscrito no coração de cada homem, antes mesmo que a revelação divina o alcance. Mesmo que Deus não tenha sido reconhecido como criador, e mesmo que não haja lei revelada, o homem nasce em diálogo com Deus, e frente à sua ação reage ao seu projeto: porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. (Rm 1.19)

A consciência é depurada, nutrida e provada no culto. A epístola aos Romanos normamente emprega o termo consciência num contexto sacrificial. Os sacrifícios do Primeiro Testamento não tinham o poder de tornar pura a consciência daquele que fazia o sacrifício, pois se estes tivessem possuídos deste sentimento, deixariam de fazer sacrifícios. Mas ao contrário, ano após ano renovam a lembrança dos seus pecados, uma vez que o sangue de touros e de bodes não pode purificá-los. O sangue de Cristo, sim, purifica a consciência de todo o pecado, considerando-os como obra morta, para que possamos render culto ao Deus Vivo. Essa purificação se inaugura com o batismo, pois, segundo Pedro, é o batismo que firma o compromisso com Deus de uma boa consciência redimida pela ressurreição. Em resumo: só o sangue de Cristo e a sua ressurreição tornam possível uma consciência pura: ...a qual, figurando o batismo, agora também vos salva, não sendo a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo. (I Pe 3.21)

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